segunda-feira, 13 de junho de 2011

Adoráveis mulheres

Adoráveis mulheres é um livro de amores, corações partido, traição, muitas lições de vida. Gardenia escreve uma carta para a amante de seu marido sua irmã de semem. Terezinha foi a mulher que roubou os melhores momentos da vida de Gardenia o inesperado faz uma surpresa. Adoraveis mulheres http//www.clube de autores.com.br.
Passe por là. Nadia Foes

domingo, 12 de junho de 2011

DIA DOS NAMORADOS

Um feliz dia dos namorados!

Meu livro Adoraveis mulheres foi publicado com selo do Clube de Autores esta a venda no site http//Clube de Autores.com.br.

Adoraveis mulheres não é um livro escrito só para mulheres e sim com a intenção de despertar o lado terno masculino.

Adoráveis mulheres são contos sobre o amor, ou melhor o amor é o maior personagem deste livro.

O HOMEM SONHADOR AINDA EXISTE.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Amor surreal

João Pedro! Você não imagina a minha felicidade, você mudou a minha vida! Que bom que mais alguns dias e nós vamos para Nova York. Como João Pedro? Você esqueceu que vamos primeiro a Nova York? Vamos visitar a exposição das obras de Pablo Picasso. Qual a fase do Picasso que você prefere João Pedro? Eu gosto da fase azul! Pois é meu querido, veja como é a vida, meu amor estou falando de nossa relação! Ora João Pedro, você tem cada idéia! Não se te contei, pois é, vou te contar. Eu conheci meu ex-marido na faculdade, foi lindo, namoramos durante cinco anos e após a formatura foi realizada a cerimônia de nosso casamento. Fomos tão felizes até o dia que ele chegou em casa e não encontrou o Matisse que foi de sua família. Sabe João Pedro, eu não gostei do harem do Matisse, aquelas mulheres tão sem graça. Eu doei o Matisse para o Museu de Arte Moderna. Ele ficou furioso, não você não entendeu, João Pedro. Eu fiz o que achei certo, ele recuperou o Matisse que não poderia ser doado sem o consentimento dele. Penso que ele é bipolar. Será? Chega João Pedro! Homem é homem. A classe é unida. Não me contrarie senão você dorme no sofá da sala, certo? Ta meu amor, não vamos brigar. João Pedro o que você acha de aumentar a dose de Prozac? Não entendo, é Procac, Zolof, Rivotril, Dormonid, e outros tantos comprimidos que não careço de tanta medicação. Não acha meu amor? João Pedro, eu estou aqui falando há um tempão e você cochilando, não está certo. Meu amor eu gosto de atenção! Está bem, está bem, chega de discussão e vamos dormir, amanhã vou arrumar as nossas malas. Então João Pedro vamos esticar em Paris certo? Com você é tão diferente. Com o meu ex em tudo no grito, ele era muito estressado. Ele dizia que eu era louca de pedra, vê de pode. João Pedro, minha bisavó, te contei? Foi aquela da tragédia da Piedade. Não João, Piedade era o local onde aconteceu a tragédia, não foi fácil ser bisneta dela sabia? E João Pedro família é família. Eu bem que gostaria de ter sido feliz no casamento, a culpa não foi minha. Sabe João Pedro tudo aconteceu muito rápido, nós discutimos, eu estava limpando a arma que disparou e acertou a coxa dele. Imagine o estrago se o tiro é mais para cima. Pois ele foi hospitalizado, perdeu a safena e na volta o ingrato foi para a casa da mãe dele. Estive lá e levei a arma para provar que não tive intenção de atirar. Sei João Pedro, eu sou campeã de tiro ao prato. Até você Brutus! Pois é a minha ex sogra começou a gritar e o porteiro me imobilizou. É não chamaram a polícia. É João Pedro eu também fui internada no hospital para fazer sonoterapia. Chato né? João Pedro não mexa aí que tem uma mini pistola dentro da caixa de lenço de papel. Claro né João Pedro, você é um cara de qualidades, sabe. Você sabe ouvir, você é carinhoso e sei que me ama. Você jura que vai me fazer feliz? Se você jurar eu acredito. Ta amor agora larga a caixa, vamos dormir. Quer um copo de leite, não, pois eu quero. João Pedro não me irrite, larga que já falei o revolver está carregado. João agora me lembrei de uma historia divertida, no sitio do meu ex eles criavam faisão para o zoológico particular, e ele trouxe um casal e colocou no viveiro. Aqueles faisões lindos de caldas enormes, eu mandei matar o mais bonito e consegui uma receita com um chef amigo meu, ficou uma delícia e fiz questão de fazer a decoração coma as penas. Eu vi em um filme do tempo da realeza e fiz igual, pois quando o meu ex chegou e viu aquilo, eu pensei estar agradando. Pois o maluco jogou tudo pela janela e chorou. Agora me diga, a louca era eu? Ele que chora, eu que sou louca. Outra ocasião eu mandei um amigo comprar com licença do IBAMA uma jibóia linda que comeu o rato branco da sobrinha dele; a moça foi viajar e deixou o pobre rato lá em casa. Quando ele via a jibóia toda linda enroscada na cadeira predileta dele, e viu que ela comia o rato, desmaiou e depois a mulher é que é a parte fraca. Não é meu amor? João Pedro me dá esta caixa. Não. Socorro! João Pedro eu não queria te machucar, foi só um tirinho! Meu Deus ele era perfeito! Vou entalhar outro amanhã. Vai se chamar Renato, que significa renascer. Vai ser igual ao João Pedro, órfão que é para eu não ter sogra para me incomodar. Amanhã o dia vai ser cheio, na primeira hora vou providenciar o sepultamento do João Pedro no jardim, na sombra do caramanchão, vai ser lindo! Meu consolo é que ele não sofreu. Ta certo esturricou um pouco e ficou com cheiro de madeira queimada. Eu não atirei, a arma disparou. Agora estou pensando na jibóia. Será que o louco do meu ex deu para o Ibama? Ela era minha. Acho que quando o Renato ficar pronto vou até a casa do meu ex para saber da Penélope que jibóia linda! Pensando bem o meu ex decididamente nunca teve talento para ser feliz, só vocação para milionário. Amanhã vou até a casa dele e quero ver quem vai me impedir de entrar lá para ver a minha jibóia Penélope. Se a Penélope não estiver lá, é bom nem pensar. Oh céus! O tempo é curto para tanta programação, devo preparar o Renato para a nossa viagem para Nova York. Na quinta iremos visitar a coleção de obras de Pablo Picasso, no Metropolitan. Antes de viajar eu devo ir até a casa do meu ex para saber o que aquele louco fez com a minha jibóia. Será que o Renato gosta de jibóia?

O pensador

Meu nome é Dom Pipo. Sou um cocker dourado, daqueles que, dizem as más línguas, que na tentativa de aprimorar a raça para que ficassem mais belos, criaram a minha cor. Alguns nas primeiras experiências tornaram-se violentos e com o hábito de morder, e foram sacrificados , mas ninguém soube nunca explicar o que aconteceu. Mas eu não mordo e tenho cara de pensador grego, como já dizia o Bardo. E como todo pensador, sou observador. Se minha humana está triste, sento na cadeira e converso com ela. Noto que ela está meio preocupada e digo preocupada porque quando ela entra em transe e fica com aquele ar de quem está fora de órbita, se falam com ela custa a responder. Parece que o cérebro dela fica condensado. Hoje ela amanheceu assim. Às vezes isso dura horas, mas há ocasiões em dura muito tempo. Ela está pressentindo que algo de novo está para acontecer. Algo que vai trazer muitas mudanças no seu mundo, pois justo agora que ela estava conseguindo arrumar a sua desarrumação do seu interior, e lá vai ela partir para novas experiências; praticamente começar de novo. Pois ao que tudo indica, ouvi dizer que a casa será fechada por uma temporada e iremos partir, rumo ao desconhecido, e isso vai dando uma insegurança danada. Ela gosta de mar e pelo jeito só vai ver rio. Ela gosta de acordar com a passarinhada. E as plantas? E os gatos? Eles vão ter que ficar. Está certo que alguém virá tomar conta dos gatos e das plantas, mas e da parte dela que vai ficar, quem vai cuidar? Ela vai mas deixa para trás uma parte da sua história que está aqui encravada, na rocha onde foi construída a casa. E o outro pedaço vai com ela. Que destino! Quando ela pensava que tudo estava resolvido, vem uma mudança de vida. Ela não sabe que sina é esta de andar de um lado para o outro. Passou a vida com sina de passarinho arrumando o ninho. Os pássaros criaram asas e saíram em revoada pelo mundo e os sonhos dela foram ficando para depois. Até porque nunca perguntaram para ela. E os seus anseios particulares? Dia destes o marido vendo umas fotos de um amigo em um museu de Paris disse a ela: imagine só como ele deve ter se emocionado diante da grandiosidade das obras de arte, pois nós que quase não entendemos de arte, perdemos o fôlego quando vimos. Eu vi que ela olhou para ele e fez aquela cara de quem vai entrar em transe. E ficou pensando. Depois de muito pensar disse: Dom Pipo veja só, fiz curso de história da arte com um dos melhores professores do sul, estudei escultura, pintura, ourivesaria, sou restauradora de bens móveis e ele nem sabe disso. Aí foi a minha vez de franzir a testa e ficar pensando, mas que ingratidão, pois até na casa de uma tal de Lucrecia Borgia, ela foi e lá ela lavou o rosto e bebeu a água da fonte. Disseram que as propriedades da tal água são milagrosas para a beleza e que a tal de Lucrecia já fazia isso. Mas ela disse, não acredite, Dom Pipo, em tudo que você ouvir, pois dizem que a Boca da Verdade, em Roma, come a mão de quem mente.É o que dizem. Mas não comeu a mão do marido dela. Era para ele ter voltado maneta de lá se isso fosse verdade. Houve uma época em que ela quis muito ir para aquela terra onde o povo fala com o muro, só para aprender a falar com as paredes, mas agora ela não quer ir mais não, pois agora ela fala com os caninos, felinos e até com os vegetais. E assim ela leva a vida ou é levada por ela. Mas como tudo está escrito nas estrelas, lá vamos nós. A Domitila e o Kadu também vão embarcar nesta aventura. Mas veja se pode, recomeçar tudo outra vez! Olho para ela e ela continua em transe. E eu fico pensando, não seria melhor ela fazer como eu faço: se não tenho o que fazer arrumo um osso para enterrar, se não tenho osso, eu durmo. Ela que durma pois amanhã será outro dia. E se as linhas não forem paralelas, vamos continuas nas sinuosas, de qualquer jeito. Mas tem muitas coisas que ocupam a mente dela, mas nem tudo ela me conta. Mas ela sabe que temos muito em comum, pois ela quase perdeu o pé esquerdo e eu o direito. E é por isso que estamos juntos, mas isso é uma outra história que um dia ela vai contar. Espero que o transe passe logo logo, pois tenho medo de que em um desses transe, ela crie assas, saia voando como passarinho e não ache mais o ninho. Como já disse, meu nome é Dom Pipo, sou um cocker dourado, de dois anos, e tenho cara de intelectual, como dizia o Bardo.

Ninguém abre a sua porta
Para ver o que aconteceu:
Saímos de braços dados
A noite escura mais eu

Ela não sabe o meu rumo
Eu não lhe pergunto o seu
Não posso perder mais nada
Se o que houve já se perdeu

Vou pelo braço da noite
Levando tudo o que é meu
A dor que os homens me deram
E a canção que Deus me deu
(Cecília Meireles)

A vida do ponto de vista de um gato

Sou um gato, mamífero, felídeo, domestico, de cor branca, nome Tom Jones, mas me chamam só de Tom. Já vi muita coisa nesses meus quase doze anos. Hoje estou mais lento, já consigo pular da grade da piscina para a janela da copa e ainda tenho que aturar outros 15 gatos que vivem na nossa casa. Aqui já vi as festas de aniversário da menina que foi morar no estrangeiro – eta menina festeira. Tinha outra, a que casou, aquela também fazia muito movimento na casa. Algumas vezes a menina festeira fazia festa sala que eles (meus donos) chamam de sala multiuso e a outra fazia festas na churrasqueira da piscina. Eu subia no muro para, do telhado da vizinha, poder visualizar melhor o movimento. Também vi o noivado da moça, a festa de formatura. Só a festa de casamento não vi, mas me lembro dela linda, linda, vestida de noiva. Eu acompanhei as alegrias e também os momentos menos alegres. Cresci junto das meninas e hoje estou envelhecendo junto com os pais delas. Já houve um tempo que me foi dado a permissão de permanecer dentro da casa, mas eu vivia fazendo arte. Lembro-me que na formatura da moça, veio avó e uma tia, uma senhora muito enjoada que eu senti que não gostava de gatos. Ela chegou e passou a tarde inteira arrumando as coisas dela. Fiquei deitado na escada olhando oque esta estava fazendo. Trouxe jogo de cama, edredon, segundo ouvi falar, de grife, coisa muito cara. E ficou alisando aquela cama horas e horas. Depois pegou as roupas pessoas e estendeu na cama como se fossem para serem vendidas. Eu já cansado de tanta arrumação resolvi é ali que devo deixar o meu cheiro, que é para que ela veja que a casa é minha. Só não dei sorte, mal acabei de demarcar território e ela fez um fuzuê danado. O resultado é que foi colocado preso no quintal e desse dia fatídico em diante não mais tive permissão para entrar nos quartos. Vi a dona da casa chorar muitas vezes sentindo falta, ora dos filhos, ora dos netos. Quando ela chorava eu ficava acariciando e ronronando para ela até ela ficar calma. Vi o troca troca das empregadas, jardineiro, piscineiros, vi brigas com operários e vi quando eles quiseram esganar uma arquiteta e fui o primeiro a pisar no quarto andar onde os operários, só de sacanagem, me prenderam debaixo assoalho, bem pregadinho, mas minha dona procurou por mim e quando percebeu mandou arrancar uma parte enorme do assoalho só para me apanhar. Mas o pior foi quando fiquei todo amarelo de icterícia, igual ao meu dono. Senti que ele estava passando muito mal e tentei tirar a doença dele. E consegui só um pouco, mas foi o suficiente para que ele não precisasse comer capim pela raiz. Ele foi operado a tempo e eu fiquei internado na clínica. E exatamente no dia em que ele recebeu alta do hospital eu resolvi tomar o meu primeiro banho de língua para mostrar que também tinha escapado de comer o capim pela raiz. A vida na casa depois da saída das meninas ficou muito parada. Já não recebem visitas e não saem de casa, a não ser em certas ocasiões quando o filho vem buscar os velhos para sair para almoçar. O que noto é que a dona fica bem animada. Uns tempos colocaram um rapaz para cuidar das gatos, mas agora quem está cuidando é ela. Ela se preocupa porque estou velho e magro, mas ela também vive se esforçando para emagrecer e até já emagreceu um tico. Fiquei com muita pena dela quando outro gato mordeu o pé esquerdo dela, afinal ela pisou na perna dele sem querer. E o resultado foi que ela ficou muito doente, sem poder andar durante 45 dias. Depois teve que freqüentar uma clinica para aprender a andar novamente. E até hoje ela não está muito firme. Ela pensa que eu não noto, mas eu noto. A casa só fica mais alegre quando chegam os filhos e netos. Penso que eles deveriam chamar os amigos porque nenhum homem deve viver isolado. Acho que o lazer é importante. Eu sei que ela gosta de se arrumar e sair. Ás vezes ela sai com alguma amiga e volta pra casa mais feliz. Depois, ela não é tão exigente assim. Ela até voltou a trabalhar para ter com quem tagarelar. Acho que ela tem alma de jovem. Será que a alma dela ainda vai ficar velha e amarga? Acho que pensando bem ela gosta muito de ler e deve passar o tempo viajando através dos livros. Pois faça boa viagem. Certos momentos noto que o velho não gosta muito de gatos, mas ela sente um amor incondicional por nós. Ontem ela me deu um abraço e falou: Tom, estamos envelhecendo, meu amigo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Anabel

Durante minha estadia no sul fui ao shopping mais elegante da capital para ver como o povo anda se vestindo. Passei em frente a vitrine de uma loja chiquerrima e vi um acessório que saiu em uma reportagem de moda e fez a cabeça de minha filha. Entrei na dita loja e não perguntei o preço porque é daquelas lojas onde não se pergunta nada sob pena de te jogarem pela porta afora. Lá quem ousa entrar compra e não faz perguntas. Se você perguntar é porque não pode pagar. Entendeu? Pois comprei o tal acessório e paguei quatrocentos e cinqüenta reais. Saí da referida loja com um belo embrulho de presente e uma notinha de caixa na qual eu constava como categoria de cliente “turista”. Na porta da loja eu estava tão distraída que sequer notei a jovem loira com um senhor caquético. O senhor em questão usava um vestuário esportivo e era muito elegante e se apoiava no braço da jovem loira e na outra mão trazia uma bengala com castão de ouro. Na hora me lembrei de ter visto tal bengala em elegante loja parisiense onde comprei apenas um lenço e não constava na nota que era “turista” pois a jovem me recebeu fez a maior festa. Fez questão de me apresentar para o seu namorado. Estão juntos desde que se encontraram em um evento onde ela foi trabalhar como uma das centenas de recepcionistas. Pois a jovem era a Anabel Betin figura que conheci quando fiz um trabalho de laboratório em uma casa de caridade. A moça é filha de um dos senhores com quem trabalhei. A jovem tem histórias cabeludas no seu currículo. Era gordinha, mal apanhada e educação zero. Pois não é que Anabel emagreceu,cortou o seu cabelão que chegava até a cintura, fez um Chanel lindo, não usa mais seus tapa sexo, nem botas de pelinho e cores de sorvete. Devo admitir que Anabel Betin aboliu a vulgaridade em favor dos conjuntinhos estilo Chanel. Ela estava usando uma calça jeans com camisa branca e um casaqueto Chanel, no pescoço correntes e perolas, discretos brincos de pérolas e um relógio Belmercier de ouro amarelo lindo! No lugar de botas de plataforma e salto Anabela, umas sapatilhas delicadas cor bege com camélia preta. A bolsa que ela estava usando é aquela famosa francesa que custa vinte e seis mil euros e o período de espera é de mais ou menos vinte e quatro meses. Isso tudo ela fez questão de me mostrar e pedir a minha aprovação; segundo ela você sabe o que é bom e conhece grifes famosas. A bolsa de carregar o Cherry é da Vuiton. Estávamos sentados no café do shopping já a mais ou menos uma hora quando ela, ao me contar da bolsa de cãozinho, pediu para o vovô, ou melhor o namorado, amor você pode ligar para o David e pedir para ele trazer o Cherry para conhecer minha amiga. Minutos depois o David apareceu carregando a famosa bolsinha com o Cherry. Achei lindo o Cherry e o David é lindíssimo. E Anabel falando pelos cotovelos para me contar sua vida de princesa. Lá pelas tantas ela saiu com essa: o que você achou do meu gato velho? Fiz sinal que ele poderia estar ouvindo, mas ela me disse que ele é completamente surdo. Sua surdez e senilidade, porém ela me disse estar muito acostumada a sua nova vida de princesa. Lá pelas tantas ela olhou para a minha sacola de compras e me perguntou você ainda compra nesta loja? Respondi que sou freguesa turista. Ela achou muita graça e me disse que estava ali por acaso pois a dona da loja costumava mandar a coleção da temporada em sua casa para que ela faça as escolhas mais à vontade. Notei que Anabel está mais à vontade em todos os sentidos! Tirando sua precária educação, tudo nela é reluzente, suas jóias, roupas, bolsas, até seu cachorro usa uma pulseira Tiffanis no pescoço. Perguntei pela sua mãe ela me disse que ela está morando com seu irmão em um apartamento bem jeitoso em zona nobre. Perguntei e o futuro Anabel? Você está se preparando para quando ele chegar? Ela sorriu e me respondeu: ai,ai, ai, você é tão preocupada com o futuro, eu vivo o dia de hoje! Olhei para o vovô, ou melhor, para o namorado de Anabel para me despedir, ele estava recostado na poltrona do café cochilando. Anabel me convidou para jantar em sua casa, quer que eu conheça a sua nova residência que é onde foi uma famosa mostra de decoração que o vovô, digo que o namorado, comprou com todos os detalhes decorativos, até as porcelanas de famoso antiquário que estavam expostas na lojinha ela comprou. Perguntei: Anabel o que você vai fazer com uma lojinha dentro de sua casa? Ela me respondeu com toda singeleza, é o local da casa onde passo mais tempo. Algumas vezes acordo no meio da noite e vou para lá, fica próximo da garagem e o David mora nos fundos. Anabel juntou o útil ao agradável literalmente! Na nossa despedida o vovô namorado ainda dormia e ela Anabel me explicou que é por conta de certo medicamento. Não pude me despedir dele. Anabel me puxou para o lado e me pediu, por favor, na sua próxima vinda no sul promete que vai me procurar e nos visitar, sei que ele vai ficar feliz sabendo que tenho amizades respeitáveis. Respondi, ora bolas Anabel você é uma moça respeitável. Ela deu risada e me respondeu, eu preciso me cercar de pessoas respeitáveis para impor um certo respeito e ser aceita no meio dele. Me despedi e deixei Anabel, Cherry, o vovô namorado dormindo e David sentados na mesa do café. David é motorista e enfermeiro do namorado avô de Anabel que aboliu o Betin de seu nome. Segundo ela só Anabel fica mais chic. Saí dali cabisbaixa pensando na vida como ela é. Nossa, estou rodrigueana! Anabel está com vinte e dois anos e já tem uma longa estrada percorrida. Saiu da boca do lixo, nasceu em um ambiente provisório, morando todos os seus familiares no mesmo terreno em casinhas grudadas. Cresceu na mesma casa onde sua mãe nasceu. Cada casinha tem, até hoje, um quarto, e nesse quarto ela dormia com seu pai, mãe e irmão, A promiscuidade reinava ali. Porem se o vovô namorado partir dessa para melhor, Anabel tem uma longa experiência e vai se dar bem. Logo arranja outro vovô namorado! Que se não teve vida dura é tão promíscuo quanto Anabel que é fogo fatio!

Pérola da praia

Conheci Pérola na praia vendendo brincos. Negra retinta de cabelos sarará, moça muito simpática, mas mal ajambrada. Eu gostava de conversar com ela e ela conversava com a praia em toda a sua extensão. Dos brincos ela passou a fazer trancinhas tererê, ela carregava continhas, linhas, tudo muito colorido, espelhos, enfim, um arsenal sem tamanho. Andava sempre em companhia de suas irmãs, moças honestas e ficava encantada com o dom de Pérola. Ela separava pequenas mechas de cabelo e trabalhava com contas e fios. Durante muitos anos ela fez isso; ela já era a minha amiga da praia. Eu não sabia que ela tinha mais um dom, era cantora: tinha voz afinada, foi descoberta por um produtor argentino e foi viver em Buenos Aires, mas no verão batia ponto na praia, só que agora já se transformara em uma diva negra. Não era mais mal ajambrada, pelo contrário, usava umas cangas lindas. Os cabelos muito bem tratados, Pérola estava no auge da mocidade e dos sonhos. A praia inteira acompanhou o desabrochar da Pérola Negra. Não era mais simplesmente Pérola. Acrescentou o Negra ao Pérola. No último verão que passei na praia, ela já não vendia mais na areia. Continuava trabalhando, mas como era uma estrela, abriu loja com salão de beleza anexo e vendia panos e objetos de decoração africanos; suas raízes negras. Me contou que estava feliz e casando com um conde italiano. Essa é outra que sabia o que queria da vida. Há dois verões que não sei de Pérola Negra, mas até onde sei ela ia casar com o conde e ia levar na sua bagagem para Roma, a mãe e duas irmãs, tão decentes quanto Pérola Negra, que era respeitada no seu trabalho honesto e preocupada com o dia seguinte. A Pérola Negra foi longe. Hoje é condessa Pérola e foi morar na Itália com o seu conde. Não foi fazer programa. Até imagino Pérola fazendo suas compras na Via Del Condote, na Viale Pavioli, passeando pela Piazza de Espanha, Piazza Navona, visitando o Panteão, jogando moeda na Fontana Di Trevi. Hoje não deve usar mais suas cangas coloridas ou trajes africanos, mas deve estar elegantérrima percorrendo as sete colinas de Roma. Já deve ter tirado milhares de fotografias na Coluna de Trajano, no Templo de Vesta, no Coliseu Romano e já deve ter colocado suas mãos na Boca da Verdade, sem medo de ser abocanhada por ela. Nas horas vagas deve andar de motoneta pela Cidade Eterna. Mora em palácio e tudo dentro dos conformes. Felicidades Pérola. Você merece. Fez por merecer. Quem sabe ainda vou encontrar Pérola em Roma, com loja montada, na Piazza de Espanha. É vero!!!